estratégias da arte em estado de guerrilha
- Idylla Silmarovi
- 2 de fev. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 2 de fev. de 2022

Porque existe o ideal de mulher branca, sedutora mas não puta, bem casada mas não nula, que trabalha mas sem tanto sucesso para não esmagar seu homem, magra mas não neurótica com comida, que continua indefinidamente jovem sem se deixar desfigurar por cirurgias plásticas, uma mamãe realizada que não se deixa monopolizar pelas fraldas e pelos deveres da casa, boa dona de casa sem virar empregada doméstica, culta mas não tão culta como um homem.
Essa mulher branca e feliz, cuja imagem nos é esfregada o tempo todo na cara, essa mulher que deveríamos nos esforçar para parecer, devo dizer, que jamais a conheci pessoalmente. Acredito até que ela nem mesmo exista.
Enquanto isso, a culpa, que continua sendo nossa. Somos nós que temos que nos responsabilizar pelas merdas que os homens fazem com a gente. Em silêncio, para não sermos tomadas por histéricas. Escondam suas feridas! Elas podem causar problemas ao torturador. Sejam vítimas dignas, que sabem se calar.
Nosso poder nos envergonha e constantemente servimos de trampolim na vida de outros. Creem ser necessário minar o nosso poder, dizendo, até hoje, que “competente” significa “masculina”. Mas o que me irrita nos homens não é o que eles fazem ou são, mas o que tentam me impedir de fazer ou ser. O que ainda é difícil é ser uma mulher e ter que aguentar essas imbecilidades. As vantagens que tiram da nossa condição.
Eles adoram falar sobre as mulheres, os homens. Isso evita que falem de si mesmos. Silêncio insuportável dos menininhos frágeis. Esse sexo pretensamente forte, que precisamos proteger sem parar, tranquilizar, cuidar, tomar conta. Que precisa ser protegido da verdade... Para quando será a emancipação masculina?
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Trechos organizados a partir da “Teoria King Kong” de Virginie Despentes para elaboração da dramaturgia do espetáculo Ópera Bruta, do coletivo Bacurinhas.
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