Artista da cena e pesquisadora
Atriz | Performer | Dramaturga
Anticolonial - Ka'a.
Plataforma Ka'adela
O que fazer com os monumentos coloniais? É dessa questão que nasce a Platadorma Ka'adela. Idealizada por Idylla Silmarovi no ano de 2021, reúne artistas e ativistas de diversas linguagens das artes no que entende-se por Coletivo Autônomo Temporário para pesquisar, experimentar e agir artisticamente nos espaços urbanos e tensionar os espaços de memória que homenageiam torturadores, colonizadores e genocidas. Com este trabalho, buscamos destituir o poder da memória colonial evocando a memórias dos nossos corpos trazendo a tona o nosso direito à memória, à existência e à referência.
Acreditamos na potência da obra aberta, do trabalho em processo que permite aprofundamentos e transformações a partir dos encontros.
A plataforma Ka'adela já realizou uma série de experimentações e ações no espaço urbano, sendo:
1 - "Ka'adela - uma cartografia destituinte", pelo festival Panorama RAFT em 2021
2 - "Ka'adela - ação anticolonial em legítima defesa", pelo Fundo Municipal de Incentivo à Cultura da Belo Horizonte, em 2022
3 - "Ka'adela - profecias", pelo Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte, em 2022
4 - "Ka'adela - ação coletiva de contra-ataque", pelo Festival Panorama 30 anos e Bienal SESC de Dança, em 2023.
5 - "POVOAR - MIRAÇÃO", realizado em Essen/Alemanha com recursos da LMIC - BH e parceria da PACT Zollverein e no Festival Mirada em Santos/SP (2024)
Por se tratar de uma plataforma composta por artistas de diversas regiões do Brasil, nossa estratégia criativa se dá a partir de residências artísticas feitas pelas pessoas do coletivo para criação, planejamento e realização das ações, residências essas por vezes apenas pelas pessoas do coletivo e por outras, aberta a público local interessado em fazer as ações conosco.
Trabalho criado pelo Coletivo Autônomo temporário, uma plataforma formada pelos artistas: David Maurity, Edgar Kanaykõ Xakriabá, Fredda Amorim, Idylla Silmarovi, Juão Nyn, Rafael Lucas Bacelar e Vina Jaguatirica.
Ações:
POVOAR - MIRAÇÃO
Fazer dançar as imagens
1ª edição: PACT Zollverein (Essen / Alemanha)
2ª edição: Festival Ibero-americano de artes cênicas MIRADA (Santos/SP))
Apresentação: Fazer dançar as imagens
Para muitos povos Indígenas, o conceito de “imagem” está para além daquilo que a sociedade, de modo geral, a enxerga. Sobretudo, reflete como cada sociedade vê, pensa e se relaciona com o mudo em que vive. Em Akwē (Xakriabá) ‘Hêmba’ é um termo para se referenciar a alma e o espírito, ao passo que é a mesma tradução para imagem, arte e fotografia. Neste mesmo sentido, o pajé e líder do povo Yanomami, Davi Kopenawa, enfatiza que uma das funções de um xamã é justamente fazer dançar as imagens de seus Xapiri – espíritos que auxiliam os pajés nas relações de guerra, doença e cura.
Festivais instauram em seu público e em seus trabalhadores outros tempos que escapam do cotidiano. Por este tempo, orbitamos coletivamente sendo povoados de imagens-espíritos, práticas, encontros e afetos. Festivais também podem instaurar outros tempos na cidade, criando pontos de atenção em espaços por muitas vezes não percebidos no dia a dia das ruas. Como um festival habita uma cidade e como a cidade habita um festival? Como, performativamente, podemos borrar as fronteiras que separam um território do outro? Miramos as artes vivas e presenciais e miramos os territórios habitados por elas, territórios esses visíveis e não-visíveis, territórios que antes de tudo são corpo, territórios que todavia são rastros de algo que foi apagado e que ainda segue vivo em alguma medida. Construímos e tensionamos mundos, borramos fronteiras e povoamos o nosso imaginário das mais diversas experiências.
Para isso, dando sequência ao trabalho que os artistas realizam juntos na Plataforma Ka’adela, Edgar Kanaykõ Xakriabá, etnofotógrafo e Idylla Silmarovi, artista da cena e pesquisadora propõem, a partir dessas questões, a criação de um coletivo autônomo e temporário para ocupar coletivamente o festival tendo como disparador conceitual as questões levantadas acima que apresentam reflexões em torno da imagem e seus suportes. Com isso, pretendemos criar o que chamamos de “Povoar-Miração” fazendo dançar nossos corpos-imagens tendo como suporte: fotografia, vídeo, performance e palavra.
Vídeo-teaser da 1ª edição
Vídeo-performance da 1ª edição
Vídeo - performance da 2ª edição
Ka'adela -
Ação coletiva de contra-ataque
No Rio de Janeiro: Monumento à D. Pedro e Monumento à Duque de Caxias
Em Campinas: Monumento à mãe preta e à Princesa do oeste
Um grande corpo de baile dança pelas ruas. Pensando a cidade como um museu de arte colonial a céu aberto, a performance propõe um contra-ataque aos seus símbolos, por meio de elementos das artes da presença. A ação busca materializar o sonho coletivo de destituir as imagens e memórias coloniais para trazer à tona aquelas que foram apagadas e ofuscadas pelo sistema.
Guiado por um roteiro performativo, o bando convida os presentes a repensarem questões em torno de memórias coletivas, parecenças e diferenças. Explorando uma linguagem artística híbrida e efêmera, como são os corpos, a obra é um “ka’atimbó”, uma macumba que levanta a poeira, espalha fumaça e refunda imaginários para criar outros mundos.
Idealizado por Idylla Silmarovi, o trabalho é dançado por ela, Juão Nyn, David Maurity e Vina Amorim, e pelos participantes da residência artística conduzida ao longo de cinco dias antes das apresentações pelos integrantes da Plataforma Ka’adela (Rafael Bacelar, Edgar Kanaykõ Xakriabá e Fredda Amorim). A residência, trata do compartilhamento das estratégias performativas de ocupação de monumentos e dança desenvolvida pelo coletivo ao longo de sua existência.
O coletivo é um projeto interterritorial e multilinguístico no campo das artes da cena, reunindo artistas e ativistas indígenas, negros e/ou LGBTQIA+. Juntos, eles desenvolvem ações performativas em monumentos coloniais de centros urbanos, dando novos sentidos a imagens que homenageiam torturadores, invasores e genocidas, e que reforçam estereótipos e mitos coloniais.
Vídeo-teaser gravado no RJ:
Vídeo registro Bienal SESC de Dança:
Ka'adela -
ação anticolonial em legítima defesa
Ação realizada ocupando cinco monumentos da cidade de Belo Horizonte (2022)
Busca cartografa na cidade de Belo Horizonte monumentos, ruas e trajetos que dão manutenção ao imaginário colonial na cidade. Esta edição aconteceram cinco ações performativas nas ruas de Belo Horizonte. As cinco performances propõem a destituição de verdades coloniais na efemeridade característica das artes da cena, ao se relacionar criativa e artisticamente com os monumentos, com as ruas e a própria história. Trata-se de uma retomada, da demarcação de que o território urbano também é indígena, assim como todo esse território que hoje chamamos de Brasil. É um tratado anticolonial em legítima defesa.
Depois de muito tentarem nos silenciar
depois de muitos tentarem falar por nós, nossa fala se tornou esturro, um brado de onça!
Estamos aqui para convocar, megafonizar para a onçação.
Com todas as nossas formas de lutar, convocar e invocar, de criar, de compartilhar e de transmutar! Vamos onçar!
Locais de ocupação:
Feira Abya Yala
Monumento aos Guararapes
Vila Militar do Bairro da Graça.
Museu de Arte da Pampulha
Ônibus Pindorama (4802)
Vídeo-documentário das ações:
FICHA TÉCNICA:
Idealização - Idylla Silmarovi
Direção - Rafael Bacelar
Direção de encantaria - Avelin Buniacá Kambiwá
Direção de fotografia - Edgar Kanaykõ Xakriabá
Performers-onças - Avelin Buniacá Kambiwá, Idylla Silmarovi e Juão Nyn
Dramaturgia e roteiro - David Maurity
Consultorya contralonyal - Juão Nyn
Figurino - Gabi Dominguez
Confecção de Máscaras - Mari Teixeira
Câmeras - Alexandre Hugo e Edgar Kanaykõ Xakriabá
Edição e finalização - Alexandre Hugo
Direção de Produção - Fredda Amorim
Produção Executiva - Vina Amorim
Designer - Kawany Tamoyos
Assessoria de Comunicação - Thamira Bastos
Realização - Plataforma Ka'adela / Coletivo Autônomo Temporário
Ka'adela - Profecias
Performance realizada no FIT-BH 2022
Profecias foi elaborada para o Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte (FIT-BH). Foi realizada na entrada da comunidade Vila Dias. Discutimos junto à comunidade a re-existência e resgatamos memórias da fundação dela. Foi realizada uma ação de 30 minutos que discutia memória, e a retomada de memórias como ação de resistência e de possibilidade de criação de um mundo possível para as maiorias que são minorizadas pelo cis-tema colonial.
Vídeo registro da ação:
Ka'adela -
Uma cartografia destituinte
Ação realizada para o Festival Panorama RAFT (2021)
Nesta primeira edição, elaborada para o festival Panorama RAFT (RJ), mapeamos os monumentos coloniais presentes na cidade de Belo Horizonte e realizamos uma ação de disfarce no monumento à Duque de Caxias, genocida de povos indígenas e pretos. Transformamos sua estátua em Galdino Pataxó, liderança indígena que foi queimado vivo por adolescentes na cidade de Brasília. Dessa forma, “apagamos” a memória do Duque e, trouxemos a tona, a história desta liderança para o debate público na cidade.
Sinopse: Reescrever com as cinzas a história sobre as marcas de sangue deixada nos vincos da terra.” Ka’adela é um animal sem direito à pertencimento que busca farejando nos bueiros da história a sua própria. Ela se encontra com a onça e as duas constroem alianças com outros sujeitos que tecem junto delas a criação de uma linguagem artística híbrida, fronteiriça e ancestral, como os próprios corpos. Ka’adela é um projeto, uma pesquisa em desenvolvimento, um grito compartilhado.